
A segunda temporada de Pose, série originalmente da FX Networks, chega finalmente a Netflix. Sob a batuta do showrunner que tem tornado a plataforma mais diversa, Ryan Murphy, também conta com a direção de Brad Falchuk e Steven Canals.
A rotina do grupo de transexuais negras do fim da década de 1980 volta com as memoráveis apresentações de vogue, com homenagens a Madonna e, mesmo que caia em alguns didatismos, numa temporada irregular, continua valendo cada minuto.
Os dramas de Blanca (MJ Rodriguez) e seus amigos Elektra (Dominique Jackson) e Pray (Billy Porter) retornam nessa que é uma das mais provocantes e importantes produções de visibilidade LGBTQIA+. Assim, as questões queers saem do lugar de fala burguesa (e preconceituosa) dos gays brancos e cisgêneros e passam a serem vistas a partir da dura realidade das transexuais (acrescenta-se negras).
Então, Pose é puro arrebatamento, mesmo retratando a emergência da pandemia da AIDS, a partir dos bailes que vão moldar a estética de Madonna, no seu single Vogue, de 1990. E nessa segunda temporada os filhos adotivos de Blanda seguem suas vidas por um lugar ao Sol.
A sequência vem com dez episódios, com uma média de 60 minutos em cada e com elenco afinadíssimo. O assistidor atento perceberá que a continuidade chega numa produção mais requintada, com figurinos primorosos e uma qualidade visual mais apurada. Não que a primeira temporada deixava a desejar, mas felizmente o espectador perceberá que essa continuidade chega com mais orçamento. Ponto pra lá de positivo!
Os arcos de cada uma das personagens desencadeiam a partir de uma lógica realista, mas um pouco romantizadas. Como relatado em Hollywood, também da Netflix e de Murphy, há nessas produções um clima de “passar a limpo”, com o olhar atual, sobre questões ainda embrionárias ou inexistentes no momento histórico retratado.
Por isso, algumas falas e desencadeamentos parecem relevar a brutalidade do passado. Por outro lado, felizmente modernizam questões desgastadas e ultrapassadas, como os anos da chegada do HIV, que quando retratadas sob o a perspectiva da época, reforçam o estigma de quem vivem com o vírus hoje.
Assim, a segunda temporada de Pose se enquadra numa elogiável visão, enquadrada nas Novas Narrativas Sobre o HIV“, tema no nosso episódio 31, do Rolê Urbano.
[toggle title=”Ouça o Rolê Urbano: Novas Narrativas sobre o HIV” state=”close”]
Neste episódico contamos com a participação do mobilizador social e criador do canal do YouTube Super Indetectável, João Geraldo Neto, que além de explicar sobre o estigma que o HIV ainda carrega depois de quarenta anos, nos ajuda a entender o motivo dessas histórias demorarem tanto para se atualizarem.
Lucas Rocha, autor do livro Você Tem A Vida Inteira, fala sobre a obra que conquistou a editora de Harry Potter e chega às prateleiras das livrarias dos Estados Unidos.
Além de livros, tem séries, filmes, lançamentos musicais e poesia, com Marina Vergueiro.
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É verdade que alguns episódios desta temporada apostam numa dramaturgia pouco original, mesmo que a escolha em dar um tom festivo a trágica morte de uma das suas personagens tenha lá seu efeito positivo. Mas o tom fantasmagórico irrita no episódio e ao decorrer da série.

Há ainda também de apontar para os diálogos ora professorais demais, ora otimistas demais. Mas, isso pode soar um pouco como falácia (ou até preconceito deste que escreve), pois a grande força de Pose está no empoderamento das comunidades trans e/ou negras. Afinal, reforçar apenas histórias de sofrimento e de tragédia são narrativas que funcionam e reforçam o lugar de privilégio dos brancos e cis.
Sendo assim, essa segunda temporada é uma festa de afirmação, como tem sido alguns trabalho de Murphy, inclusive o recente A Festa de Formatura, também na Netflix.
Por isso, para nós brasileiros, que tivemos uma adolescente trans de 13 anos espancada até a morte no Ceará, nesta semana, é preciso ação, além do streaming. Vidas importam! Todas elas!
Daí, resta-nos, empoderar esta garota, como fez Pose, imaginando-a dançando e festejando, nesse inaceitável pós-morte.
Não deixem de ver!