Uma batalha judicial pela tutela de uma das maiores celebridades do mundo tornou-se um dos mais notórios movimentos de fãs para proteger a sua estrela. Esse é o resumo do documentário Framing Britney Spears – A Vida de Uma Estrela.

Produzido pela New York Times e distribuído pelo Globoplay aqui no Brasil, a produção disseca e analisa a carreira da chamada “Princesa do Pop”. O doc cria uma linha do tempo cuidadosa para explicar o movimento Free Britney, que tomou conta das redes sociais desde 2019.
Os relatos vão desde a ascensão meteórica dela no final da adolescência até os problemas psicológicos causados pela perseguição dos paparazzi.
Quem acompanha o mundo das celebridades nos últimos 15 anos dificilmente passou despercebido pelo fenômeno Britney Spears.
Em 2008, após anos sendo difamada e perseguida pela mídia, a cantora protagonizou cenas preocupantes. Raspou os cabelos, bateu no carro de um fotógrafo com um guarda-chuva e teve que ser internada compulsoriamente diversas vezes.
Rodeada por uma imprensa agressiva, que em nenhum momento discutia saúde mental, Britney foi facilmente colocada como instável e louca. Foi por isso que, em 2008, seu pai, Jamie Spears, assumiu o controle sobre sua vida, carreira e finanças. Isso tudo em esquema de tutela, processo concedido quando alguém não tem condições de cuidar de si mesma.
Sob o olhar vigilante do pai, a moça retomou a carreira e garantiu mais uma década de sucessos – com singles no topo das paradas e uma turnê extremamente lucrativa em Las Vegas. A Princesa do Pop conquistou tudo isso mantendo uma aura de mistério em torno de si, o que é totalmente impossível em tempos de redes sociais.
Por conta desse ar de mistério, foi só em 2018 que os fãs começaram a perceber atitudes estranhas vindas da cantora. Ali surgiram as especulações – confirmadas algum tempo depois – de que Britney estava lutando para se desvencilhar da tutela do pai.
O movimento pela liberdade da cantora, chamado de Free Britney (ou, em português, “libertem a Britney”) tomou as redes sociais e até as ruas de Los Angeles. Hoje em dia é quase impossível encontrar uma pessoa que goste de cultura pop e não apoie a causa.
Apesar do movimento massivo criado pelos fãs, Britney atualmente continua sob vigilância de seu pai. Por causa deste cenário, obviamente não temos a participação ativa da cantora no documentário, e a diretora Samantha Stark precisou seguir por um caminho diferente.
A produção conta com diversas imagens de arquivo de Britney, com várias entrevistas. Os entrevistados são desde fãs e ativistas do Free Britney, até advogados e pessoas que tiveram algum contato com a cantora ou seu pai durante o processo da tutela.
Ao fim do filme, é revelado que nenhum membro da família (e nem outras pessoas que tiveram um papel chave em sua vida) concordaram em participar do documentário. Já quanto à Britney, o New York Times afirma que enviou um pedido de entrevista para ela, mas não faz ideia se a estrela o recebeu.
Sem fontes internas tão fortes, o documentário trouxe uma visão mais analítica, mostrando todo o caminho que Britney passou até chegar em seu momento atual. A produção traça paralelos entre o que a cantora vive hoje e o que ela já viveu no passado. Ao mesmo tempo em que expõe contradições entre a persona de Spears e seus próprios fãs.
Desde o sucesso instantâneo em 1998, Britney conquistou um espaço reservado aos grandes popstars. Loira, branca, magra e cisgênero, é a síntese da mulher padrão. No entanto, suas músicas não só divertem, mas empoderam uma legião de fãs.
No documentário tem depoimentos de pessoas LGBTQIA+ que dizem o quanto Britney os ajudou a se aceitarem. Mesmo sendo uma figura sem qualquer posicionamento político.
Mesmo possibilitando aos seus fãs essa sensação de liberdade, a cantora nunca pode desfrutar de algo do tipo. Sob uma ótica extremamente misógina, que permeava todo o início dos anos 2000, Britney era colocada contra a parede por tudo.
Os jornalistas se sentiam no direito de questionar sua virgindade, de criticá-la por suas escolhas de figurino, e de inventar mentiras sobre ela, com o único intuito de vender revistas.
Também é impossível assistir Framing Britney Spears sem pensar automaticamente em outras figuras pop que passaram por algo parecido. Alguns desses casos são os da princesa Diana e Amy Winehouse.
Apesar de hoje em dia a imprensa proclamar que não é mais tão agressiva quanto antigamente, temos outra leva de ícones que dizem o contrário. E a lista vai desde Ariana Grande até a ex-duquesa Meghan Markle.
Framing Britney Spears é um documentário complexo e cheio de nuances, e é impossível terminar de assisti-lo sem sentir um nó na garganta. Para além das questões estilísticas, ele é uma obra necessária, principalmente enquanto Britney não tem voz para dar a sua própria versão dos fatos”.