Crítica: A Princesa Tuná e a Água Perdida, direção Valéria Liper e Lucas Rodrigues

Uma história que celebra a cultura nordestina e a importância de valorizar nossas origens.

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A Princesa Tuná e a Água Perdida - Foto Ronaldo Saad
A Princesa Tuná e a Água Perdida - Foto Ronaldo Saad

Em meio à efervescente e diversificada cena teatral de São Paulo, este blog optou por se concentrar no teatro voltado para o público adulto, devido à impossibilidade de acompanhar toda a amplitude do teatro local. No entanto, ocasionalmente, temos a oportunidade de ultrapassar essas fronteiras, o que sempre resulta em experiências gratificantes. Um exemplo disso é a peça A Princesa Tuná e a Água Perdida, atualmente em cartaz no recém-inaugurado Teatro CPA, na Vila Mariana.

Lições de Sustentabilidade

Tuná (interpretada por Valéria Liper) é uma jovem do interior do Nordeste que almeja a vida de uma princesa na metrópole. Em meio à sua vida despreocupada, incluindo as brincadeiras com a cabra Filomena (Marcus Mazzieri), a água de seu amigo Poço desaparece. Este evento marca o início de sua jornada da sua casa para a cidade grande.

Na cidade, ela encontra personagens como o Vento, o “Fado” (substituto da Fada que está de férias), um Pássaro e a Chuva, todos interpretados por Lucas Rodrigues. A criativa dramaturgia, assinada por Liper e Rodrigues, conduz Tuná e sua cabra por uma série de episódios, em que lições de sustentabilidade são apresentadas ao público infantil por meio de um diálogo inteligente com a criançada.

O texto, lírico e livre de clichês, parte do imaginário das princesas, tão presente no universo da Disney, para apresentar uma menina nordestina, ativa e decidida. Além disso, a história apresentada se enquadra entre os clássicos do teatro infantil brasileiro, como Pluft, o Fantasminha ou A Menina e o Vento, ambas de Maria Clara Machado (1921-2001), que além de serem grandes obras infanti, são refinados e bons textos produzidos pela dramaturgia brasileira.

Encenação poética e fantástica

A encenação, que contou com apoio de Ronaldo Saad, toma partido de um universo poético e fantástico. Ventanias e chuvas acontecem pela marcação e uso do corpo do elenco e técnicas de palhaçaria são incorporadas a partitura cênica.

Nathalia Kill, Maira Rodrigues, Lindaura de Jesus e Maria Aparecida, juntamente com o trio principal, assinam a cenografia que se inspira na estética de cordel e que se complementa com adereços inventivos. Os figurinos de Márcia Souto definem a personalidade de Tuná e contribuem para a criação do universo fantástico, assim como a trilha sonora da Produtora Coffe.

Personagens memoráveis

O desempenho dos atores e da atriz em cena é, sem dúvida, um dos elementos de maior destaque do espetáculo. Rodrigues abre a cena com ares de commedia dell´Arte tocando uma pequena sanfona. Assume as personagens que Tuná encontra na cidade, com desenvoltura e marca as diferentes personas com distintos sotaques. O Fado mal humorado que substitui a Fada em férias é imperdível!

Liper interpreta uma princesa divertida e determinada, longe de qualquer passividade ou idealização. Ela cumpre a jornada de Tuná com destreza, sem cair na caricatura de ser uma criança.

A cabra Filomena, inicialmente pensada para ser um fantoche pelos criadores, é certamente um dos destaques. Mazzieri traz na suas partituras corporais registros de uma cabra e com um único balido conquista e diverte o público. E torna-se o pícaro fiel como Sancho Pança, de Dom Quixote (Dom Quixote de la Mancha), ou Sam, de Frodo (O Senhor dos Anéis) ou Chicó, de João Grilo (Auto da Compadecida).

Bom teatro

O celebrado crítico de teatro Sábato Magaldi (1927-2016) já disse que “há bom teatro, que adultos e crianças assistem com prazer”. E é isso que o público, tanto adulto quanto infantil, encontra em A Princesa Tuná e a Água Perdida. Um excelente exemplo de como dramaturgia, desempenho, cenários, figurinos, trilha sonora e luz se conjugam para o sucesso de um espetáculo.

Não deixem de ver!

Serviço

A Princesa Tuná e a Água Perdida.
Até 28 de julho, domingos às 15h.
Teatro CPA – Rua Santa Cruz, 219 – Ao lado do Metrô Santa Cruz.
Livre.
70 lugares.
R$ 35,00 (meia)
https://www.cpa.art.br/emcartaznocpa
Bilheteria no local aberta 1 hora antes do espetáculo.

Ficha Técnica

Texto e direção: Valéria Liper e Lucas Rodrigues
Atores:  Valéria Liper, Lucas Rodrigues e Marcus Mazzieri
Voz off: Vick Vi e Paulo Garcia
Cenários e adereços: Valéria Liper Marcus Mazzieri, Lucas Rodrigues, Nathalia Kill, Maira Rodrigues, Lindaura de Jesus e Maria Aparecida
Figurino: Márcia Souto
Produção sonora: Produtora Coffe
Operador de som e luz: Vinicius Nunes
Apoio: Centro de Pesquisa em Artes – CPA

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